28.11.06

Reencontros

Ao chegar àquela cidade que me viu partir anos antes ainda criança e cheio de medos, vinha ao meu nariz um cheiro que transportava a aurora de minha vida.
Comecei, num exercício cheio de prazeres, reconhecer a àquela cidadela que me parecia enorme, e hoje me chama atenção por ser tão pequena, cinco ou seis ruas que margeiam a praça central e sua construção mais fantástica, um coreto pequeno feito numa tentativa de filiar-se a arquitetura art déco que era endêmica na capital.
Tudo parecia exatamente como havia deixado, entretanto o ar de cidade abandonada me deixava curioso, as pessoas passavam por mim sem me reconhecerem, até mesmo ignoraram-me. Mas, rever a cidade passou a ser minha prioridade naquele momento. De longe vejo meninos na rua jogando futebol, em direção ao centro da cidade uma mocinha recebendo o galanteio de um jovem apaixonado. Próximo ao jovem casal uma mulher me fitou frontalmente até que eu me perdesse na praça.
Poucas pessoas passavam por mim e me olhavam, as demais sequer me notavam...sempre falando de forma a ignorar que alguém estava ali com elas.
Cheguei de fronte ao cemitério da cidade, um estranho sentimento de dejà vu me veio a mente, mas, tudo muito nebuloso, tudo muito real, tudo muito fantástico.
No pórtico de entrada do cemitério, vejo ao longe um amigo de infância, sentado sobre um jazigo aos prantos, inconformado com uma dor de amor.
Falava que tinha se apaixonado por uma doce menina, e que ela lhe havia sido recíproca, o namoro logo se tornou sério, entretanto, o meu amigo de infância tinha uma namorada anterior, que por ironia, havia ficado grávida meses após a paixão clandestina do Pedro pela bela moça.
A bela moça quando descobriu que seu amor seria pai de um filho, a mesma sai em disparada em uma charrete pelo campo a fora!
Após a saída, em disparada, a charrete sofre um acidente.
E eu pergunto a Pedro:
_ O que houve?
_ Ela ficou tetraplégica, vegetando numa cama.
Fiquei em silencio um certo tempo... E Pedro, me interrompeu!
_ Sabia que tinha chegado, vim para te ver e te mostrar como as coisas funcionam aqui! Continuei sem entender. Mas o questionei:
_ O que você fez ao ver a bela moça numa cama vegetando?
_ Saí em disparada com o meu cavalo até voar pelo precipício!!!
Que precipício?! Não entendia o significado do vôo...
Quando vejo a lápide do túmulo onde eu e Pedro estávamos sentados, tinha meu nome, minha data de nascimento e uma data recente...as flores estavam começando a murchar e a terra revirada (úmida) cheirava a fazenda.

3 comments:

Gilberto said...

Olha o realismo fantástico aí! Ficou muito bom, mas você precisa desenvolver aquela outra idéia.

Fawller said...

Realmente muito bom. Forte!

Alexandre Magno said...

Legal o texto. Muito bem escrito, principalmente a primeira parte da descrição da cidade natal