24.6.07

Notícias de Macondo

Caríssimo Arcádio Segundo,

Fico com inveja de sua viagem pelo mundo, vendo essa imensidão de meu D’us, construída de sonhos e lutas. Às vezes acho que cem anos não dão para conhecermos tudo isso aí fora! Com solidão ou não cem anos são poucos, ou, pelo menos, não satisfatoriamente suficiente.
Desde que você saiu daqui de Macondo as coisas continuam a mesma, uma coisinha ou outra acaba nos tirando da mesmice.
Um dia desse estava eu me lembrando de quando liderou o movimento de trabalhadores contra a opressão do dono da fábrica, aquela foi uma boa luta, infelizmente fomos condenados a lembrarmos daquela tragédia na estação do trem para o resto de nossas vidas.
Passo horas pensando o que tinha ocorrido se naquela estação tivéssemos pegado outro itinerário, será que mudaríamos alguma coisa? ou melhor, será que alguma coisa nos mudaria?
Agorinha começou um disse me disse de um governador e um empresário da aviação civil, disseram que ouviram eles no telefone falando como iam dividir um bolo, parece que o bolo era recheado demais da conta. Mas, parece que abafaram, não o bolo, o caso, o bolo tava prontinho. É se estava pronto alguém deve de ter comido!
Quando você foi embora, eu me lembro bem, ficamos ali na área de embarque esperando a última chamada para você pegar o rumo desse mundo imenso.
Hoje mudou muita coisa, os aviões danaram para não sair mais na hora certa, empacam que só você vendo, não tem jeito, demora às vezes um dia inteirinho.
O Presidente fala que a culpa é dos aparelhos, as revistas e os jornais falam é que do Presidente, os funcionários falam que é da falta de investimento. O negócio é tão sério que o Presidente chamou até um ministro da Aeronáutica, o cara tem cara de bravo, é japonês! Você sabe que eu nunca tinha visto um Japonês de roupa das forças armadas? Quanto mais daqui! O povo fala que ele é daqui igual a nós! A certeza que eu tenho é que é há mais tempo!!! Mas, nessa briga toda, quem controla são os funcionários.
A semana passada, um vizinho nosso daqui, não sei se você lembra, o Joanir, botou o patrão na junta para receber seus direitos. Sexta-feira foi lá nos pés do juiz, parece que o juiz não gostou muito dos pés do Joanir não, falou que não ia nem analisar o processo por causa do pé do Joanir. Eu não entendi muita coisa não! Será que o Joanir foi demitido por causa do pé! Bem, o juiz falou que de chinelos ele não aceitava fazer audiência! Remarcou para daqui uns dois meses! Será que em dois meses o pé ou o chinelo do Joanir muda alguma coisa?
Parece que o juiz é famoso por criticar essas coisas de roupas e chinelos das pessoas que vão lá na junta atrás dos seus direitos.
Falaram-me que ele sempre quis ser juiz, mas não de direito, parece que ele queria era ser juiz de moda, e, nessa semana que passou teve umas dessas bem grande, chamada São Paulo Fashion Week ou Rio Fashion Week, não entendo muito disso não, mas o juiz, chama Bento ele! O juiz Bento, Bendito, estava muito triste, parece que lá na cidade que ele mora, não lembro o nome da cidade não! Tem nome de cobra! Pois é, parece que lá não tem Fashion Week, aí ele fica achando que a vara que ele vive é passarela de moda.
Termino aqui minha cartinha, vou lá no centro comprar uma botina, tenho medo da polícia me pegar de chinelos.
Mande postais novos, um abraço!

10.6.07

Hein?

A lua ostenta seu brilho, natural
Em pensamentos divago, habitual
Em palavras me perco, acidental
Num tempo perdido, proposital

Em palavras me perco, natural
Num tempo perdido, habitual
A lua ostenta seu brilho, proposital
Em pensamentos divago, acidental

Idéias soltas
De rimas fracas
Alegrias livres
De métricas imprecisas

De rimas soltas
Alegrias fracas
De métricas livres
Idéias imprecisas