Algumas vezes penso poder realizar tudo que sonho
Algumas vezes sonho transformar tudo aquilo que posso
Algumas vezes só penso
Algumas vezes apenas sonho
Algumas vezes quero fazer de mim aquilo que quis ser
Algumas vezes quis querer fazer de mim o que sou
Algumas vezes sou
Algumas vezes. Ai de mim!
Algumas vezes sinto que poderia mudar o mundo
Algumas vezes mudo o mundo e sinto muito por isso
Algumas vezes mudo, mudam o mundo.
Algumas vezes o mundo mudo, por isso sinto.
Algumas vezes acho que deveria pensar
Algumas vezes acho que deveria começar a pensar
Algumas vezes penso que pensar dói!
Algumas vezes penso que pensar é transgredir. E isso é crime!
O que faço quando algumas vezes não faço nada?
Que tal cometermos crimes?
Media Luna é a estância onde viveu a família de Pedro Páramo, livro de Juan Rulfo que busca, uma forma especial e particularizada de compreender a totalidade das sociedades colonizadas na América Latina, estabelecendo na escrita um procedimento de identificação individual e social, em uma sociedade que tem, no conjunto de suas redes de sociabilidade, uma característica já quase que ficcional na investidura de seus entes enquanto atores sociais.
28.5.06
18.5.06
O que faria se me restassem apenas vinte e quatro horas?
Saio do consultório ainda trêmulo com as mãos geladas não conseguindo pensar em nada, apenas na sentença de morte prolatada pelo médico: - Meu amigo vá para casa, fique perto de sua família e em pouco tempo adormecerá para sempre. O primeiro reflexo, após meu raciocínio voltar, foi rir da ironia, então eu, advogado, receberia uma sentença da qual não caberia recurso e o pior, advogar e em causa própria sem variante recursal causa em primeira análise uma revolta.Então pensei, não tenho tempo, são no máximo vinte e quatro horas, para perder tempo com revoltas. Buscarei aproveitar minha vida da melhor forma neste pouco tempo que me resta. De repente uma melancolia me tomou e o cheiro de livros mal conservados da biblioteca da cidade onde cresci me veio ao nariz provocando em mim reações olfativas, visuais, degustativas em minhas retinas que em pouco tempo voltará ao pó.Como poderia eu me resolver e não perder o pouco tempo que me resta? Minha primeira batalha seria me encontrar, sou eu um cético judeu? Ou um católico agnóstico? Parei! Pensei! Consegui no máximo aumentar minhas dúvidas, inclusive porque não me taxar de judeu católico ou cético agnóstico? Enfim todas as variáveis neste cruzamento olímpico são pertinentes para esse pobre impertinente.Já passavam três horas da sentença, busquei imediatamente a segunda opinião médica sobre minha estranha doença, o médico novo pediu-me para que fosse fazer o que eu gostava de fazer, pois não tinha mais de doze horas de vida. Em razão, sobretudo de perder nove horas de vida por cada opinião médica resolvi não buscar uma terceira opinião, mesmo sabendo a prevenção agora soar como ironia pura.Enfim, tinha que fazer uma última refeição com comida e bebida que me apeteciam, afinal depois desta, não teria mais nenhuma forma de exercitar a comparação gastronômica. Pensei em pedir uma boa salada e um suco de uma fruta tropical da época. Mas, rapidamente me veio à cabeça uma voz em alto e bom som: - “Larga mão de ser hipócrita, nada que você comer hoje levará a cabo sua vida antes do prazo dado pelos médicos”. Não reconheci a voz, mas fui obrigado a concordar com ela, afinal embora desconhecida à voz tivesse sua razão!Decidi não traumatizar minha família, me comportaria como um dia qualquer, entrei em casa beijando minha mãe ao rosto e meu irmão na testa como sempre, ao entrar no quarto descobri uma lágrima que fugia de meus olhos e tardiamente descobrir a magnitude da sensação de beijar quem você ama. Não me fiz de rogado, após o banho fui ao encontro de minha amada namorada disposto também a protegê-la, lhe dei uma rosa, um beijo e um abraço apertado, saindo correndo dizendo que tinha pressa, com a voz já embargada.Já tinha passado seis horas da última sentença, resolvi que passaria em uma livraria para comprar um livro que não queria saber qual, ficando a sorte e ao toque de meu dedo em um volume escondido em uma estante qualquer. De olhos fechados passo as mãos sobre livros desconhecidos, usei uma tese, escolherei um que pelo menos tenha o número de páginas suficiente para que possa ficar em pé sozinho. Respirei fundo e enfim escolhi!Optei por passar meus últimos instantes numa praia onde lentamente viveria os últimos instantes de minha vida. Resolvi ir à bela e sempre amada pelos natalenses, praia de ponta negra. Ao andar pelas calçadas de ponta negra entre turistas e prostitutas desembrulhei aquele que seria meu último livro. Me espantei com o autor e título do livro. Gabriel Garcia Márquez Lembranças de minhas putas tristes. Achei o livro propicio, sobretudo pelo local que eu resolvera morrer, andei pelas areias molhadas da praia fui para um lugar afastado dos símbolos da política pública de turismo do país. Enquanto estava concentrado com o livro não vi chegar duas pessoas que me tiraram o livro e a chave do carro e num reflexo involuntário tentei conter os assaltantes quando de repente ouço às minhas costas dois disparos e depois o frio, já no chão entre piscar de olhos e lágrimas e com a respiração ofegante penso: “quanto democrática e globalizada é nossa realidade, deixo de ter um nome para me tornar um número de uma estatística chocante.” Sinto mais frio e vejo próximo a morte, recuso a morrer desesperado e chorando, de repente me vem o velho e bom sorriso no canto da boca. A parte boa, lembrei que a crítica tinha detonado o livro do velho colombiano, então pensei: “Tinha como ser pior. Vai que os ladrões tivessem demorado me fazendo ler o livro todo”.
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